A Importância do Flúor na Higiene Bucal
- J J de Oliveira
- 25 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de abr.

Por que falar de flúor em 2025?
Apesar de ser utilizado há 80 anos na saúde pública, o flúor continua no centro do debate — seja pelo aumento das fake news ou pelos ajustes de diretrizes internacionais. Novas revisões indicam que cremes dentais fluoretados já respondem por cerca de 38 % da ingestão diária de flúor e seguem sendo a defesa número 1 contra a cárie, enquanto a água fluoretada segue reduzindo cáries em até 65 % em populações expostas por dez anos ou mais.
1. Flúor: definição e panorama histórico
O flúor é um halogênio presente naturalmente na crosta terrestre em concentrações variáveis. Desde o estudo pioneiro em Grand Rapids (EUA, 1945), a fluoretação da água se tornou política de saúde reconhecida pela OMS e pelo CDC; no Brasil, a prática foi legalizada em 1974.
2. Mecanismos de ação anticárie
2.1 Remineralização e blindagem do esmalte
Os íons fluoreto convertem cristais de hidroxiapatita em fluorapatita, estrutura até cinco vezes mais resistente à acidez bacteriana.
2.2 Inibição da desmineralização
Mesmo em doses baixas (0,05 ppm na saliva), o flúor reduz a perda de minerais durante os picos de queda de pH após refeições.
2.3 Ação antibacteriana direta
Fluoretos difundem-se pela membrana do Streptococcus mutans em forma HF, desacoplando enzimas glicolíticas e reduzindo a produção de ácido lático.
3. Formas de exposição ao flúor | A Importância do Flúor na Higiene Bucal
Via de uso | Concentração típica | Público-alvo | Evidência de eficácia |
Água fluoretada | 0,6 – 0,9 mg F/L (Brasil) | População geral | Redução média de 25 % a 65 % na cárie |
Dentifrício | 1.000 – 1.500 ppm | Crianças (> 2 anos) e adultos | Até 30 % menos lesões cariosas |
Verniz profissional | 22.600 ppm | Pacientes de alto risco | Lesões iniciais revertidas em 43 % |
Suplemento sistêmico | 0,25–1 mg/dia | Áreas sem água fluoretada | Uso individual, sob prescrição |
4. Benefícios amplos para a saúde bucal
Prevenção de cárie em todas as idades: estudos longitudinais comprovam menor índice CPO-D (dentes cariados, perdidos e obturados) em regiões fluoretadas. A Importância do Flúor na Higiene Bucal.
Equidade em saúde: a estratégia populacional beneficia grupos vulneráveis sem depender de comportamento individual.
Redução de custos: cada R$ 1,00 investido em água fluoretada economiza até R$ 38,00 em tratamentos restauradores.
5. Segurança: mitos x evidências
Alegação popular | O que dizem os estudos |
“Flúor causa baixa no QI” | Efeito só aparece acima de 1,5 mg/L; níveis recomendados (0,7 mg/L) são seguros. |
“Flúor provoca câncer” | Revisões sistemáticas não confirmam correlação em doses otimizadas. |
“Cremes dentais infantis são perigosos” | Risco de fluorose é mínimo com supervisão parental e uso de quantidade equivalente a um grão de arroz. |
6. Diretrizes e recomendações 2024 – 2025
Concentração ideal na água: 0,7 mg F/L (PHS/CDC, 2024)
Cremes dentais: mínimo de 1.000 ppm para adultos; 1.100 ppm para crianças a partir de 6 anos (Guia MS, 2024).
Aplicação tópica: verniz fluoretado 2x ao ano para grupos de risco, conforme revisão Cureus 2023.
7. Estratégias práticas de higiene bucal fluoretada
7.1 Para pais e cuidadores
Introduzir creme dental fluoretado na erupção do primeiro dente.
Ensinar cuspir sem enxaguar, mantendo flúor ativo por mais tempo.
7.2 Para adultos
Escovar 2x/dia durante 2 min.
Usar bochechos com 225 ppm F⁻ quando em tratamento ortodôntico.
7.3 Para gestores públicos
Monitorar níveis de F⁻ na rede mensalmente.
Combater desinformação com campanhas baseadas em evidências.
8. Tendências de pesquisa: o que vem por aí?
Bioflúor: nanohidroxiapatita dopada com F⁻ promete liberação controlada de íons.
Fluor-xilitol sinergético: ensaios clínicos avaliam pastas que combinam 1.450 ppm F⁻ + 10 % xilitol para maior remineralização.
Apps de rastreio da ingestão total de flúor via IoT para prever risco de fluorose em tempo real.
Conclusão
O consenso científico permanece claro: quando usado nas concentrações recomendadas, o flúor é insubstituível na prevenção da cárie dentária, oferecendo benefícios populacionais comprovados, grande retorno econômico e baixo risco de efeitos adversos. Manter políticas de fluoretação da água, incentivar o uso diário de dentifrícios fluoretados e expandir aplicações tópicas em grupos de risco são medidas-chave para reduzir o peso da doença cárie no Brasil e no mundo.
Referências bibliográficas
Narvai PC. Cárie dentária e flúor: uma relação do século XX (2000). Serviços e Informações do Brasil
Tenuta LMA, Cury JA. Fluoride: its role in dentistry (2010). PMC
Silva TA, Santos MN. Uso de flúor como prevenção e tratamento para a cárie (2022). Frontiers
CDC. Community Water Fluoridation Recommendations (2024). CDC
Ministério da Saúde. Guia de recomendações para o uso de fluoretos no Brasil (2024). Serviços e Informações do Brasil
Aoun A et al. The Fluoride Debate: Pros and Cons of Fluoridation (2018). National Toxicology Program
Shim YJ et al. Application of fluoride in dry mouth management (2024). Lippincott Journals
NTP/NIEHS. Fluoride Exposure: Neurodevelopment and Cognition (2023). National Toxicology Program
Study Scientific Society. Importância da fluoretação da água (2024). revista.scientificsociety.net
Time Magazine. Canker sores, vitamin D and fluoride interplay (2025). Food & Wine
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